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segunda-feira, 3 de junho de 2019

Milton Banana (Especial: 20 anos de saudades)

Antônio de Souza, reconhecido artisticamente como Milton Banana, nasceu em 23 de abril de 1935 no Rio de Janeiro, iniciando sua carreira como baterista profissional em 1955 – aos 20 anos de idade – integrando a orquestra de Waldir Calmon e, em seguida, o grupo Milionários do Ritmo de Djalma Ferreira, se apresentando em boates do Rio. No ano seguinte, atuou no conjunto de Luiz Eça na boate do Hotel Plaza. 

Milton Banana


A primeira experiência de Milton Banana em estúdio ocorreu em 1958, acompanhando – ao lado dos ritmistas Guarany, Juquinha e Rubens Bassini – o fenômeno João Gilberto na antológica gravação de “Chega de Saudade” (78 rpm), que no ano seguinte entraria para o LP com o mesmo título tornando-se o disco precursor da bossa nova. 

Foto de capa do LP "Chega de Saudade" de João Gilberto (1959)

Em 1962, acompanhou João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Os Cariocas no show “Encontro”, realizado na boate Au Bon Gourmet em Copacabana – sendo esta, a única ocasião onde Tom, João e Vinicius dividiram o mesmo palco. No mesmo ano, excursionou para Argentina com João Gilberto, Os Cariocas e Baden Powell – despertando a admiração de Astor Piazzolla que comparecia frequentemente aos shows – e para os Estados Unidos, onde participou do Festival de Bossa Nova no Carnegie Hall em Nova York. Também nos EUA, gravou o importante disco Getz/Gilberto que divulgou a bossa nova para o mundo, viajando na sequência para Europa com João Donato (piano), Tião Neto (baixo) e o próprio João (violão/voz). 


Capa do disco Getz/Gilberto (1964)

Residindo em São Paulo, criou em 1963 seu próprio projeto musical, o “Milton Banana Trio” que, em diferentes formações gravou uma vasta discografia se consagrando como um dos maiores bateristas brasileiros e passando a influenciar o modo de se tocar samba, bossa e samba-jazz das próximas gerações de bateristas – até os dias de hoje. 

Capa do disco "Balançando com Milton Banana Trio" (1966)

Destacando-se sobretudo na bossa nova, Milton Banana deixou sua musicalidade registrada em importantes obras da música brasileira gravando com artistas como Tom Jobim, João Gilberto, Vinicius de Moraes, João Donato, Baden Powell, Carlos Lyra, Luiz Bonfa, entre tantos outros, além de Stan Getz. 

Em março de 1999 – já morando novamente no Rio –, aos 64 anos, gravou o programa “Chega de Saudade” pela TVE Brasil em comemoração aos 40 anos de bossa nova, entrando ao palco de cadeiras de rodas. Nota-se a não utilização do pé direito (bumbo) de Milton, que no mês seguinte teve inevitavelmente sua perna amputada em decorrência de problemas circulatórios provocados por diabetes. Este é o último e um dos raros registros que se tem do músico em vídeo. 


Apesar de ter se consagrado contribuindo com importantes obras da música brasileira, sobretudo na construção da bossa nova, Milton Banana enfrentou, além de sérios problemas de saúde, fortes dificuldades financeiras, morrendo em 15 de maio de 1999, vítima de um infarto fulminante. 

Curiosidades gerais: 

  • Em seu velório, chamava a atenção entre várias coroas de flores, uma com os dizeres: “À Milton, a quem o Brasil não homenageou, nem conheceu nunca. Ass.: todos os músicos do Brasil”. Posteriormente, diversas fontes atribuíram tal dedicatória à João Gilberto. 
  • Outra informação que passou a circular depois de certo tempo, e que Tom Jobim parece não ter revelado em vida, é que o maestro manteve por um bom tempo as despesas fixas – como aluguel – do baterista nesta difícil fase. 
  • Enquanto na velhice, a saúde e as finanças não andaram bem, na juventude o que lhe causou magoas – em meio a um período de muito sucesso em 1962 – foi a vida amorosa, quando sua namorada Elza Soares o trocou pelo craque Garrincha, que ironicamente jogava no seu time de coração – o Botafogo. 


Para matar um pouco desses 20 anos de saudades, confira essa seleção de gravações deste grande baterista: 

Chega de Saudade - João Gilberto (1959) 


Muito à vontade - João Donato (1962) 


O ritmo e o som da bossa nova – Milton Banana trio (1963) 


Getz/Gilberto - Stan Getz e João Gilberto (1964) 


The sound of Ipanema – Paul Winter e Carlos Lyra (1965) 


Balançando com Milton Banana Trio – Milton Banana Trio (1966) 


Tristeza on guitar – Baden Powell (1966) 


Tipo Exportação - Samba é isso – vol. 2 – Milton Banana trio (1978) 


Ao meu amigo Tom – Samba é isso – vol. 4 – Milton Banana Trio (1980) 



Referências: 


ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006. 

AMARAL, Euclides. Alguns aspectos da MPB. Esteio Editora, 2010. 

BARSALINI, Leandro. Modos de execução da bateria no samba. Campinas, Unicamp, 2014. 

CASTRO, Ruy. Chega de saudade. A história e as histórias da Bossa Nova. São Paulo, Companhia das Letras, 1990.

Rubinho Barsotti

Natural de São Paulo, nascido em 16 de outubro de 1932, Rubens Alberto Barsotti iniciou sua carreira musical dando canjas em casas noturnas...