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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Wilson das Neves

Wilson das Neves nasceu em 14 de junho de 1936 no Rio de Janeiro. Filho de pai pernambucano e mãe baiana, teve como primeiras influências a música de terreiro, iniciando sua carreira como baterista profissional nos anos 50 com apoio do baterista Edgard Rocca (Bituca). Com 21 anos de idade, integrou a orquestra de Permínio Gonçalves e passou acompanhar a pianista Carolina Cardoso de Meneses. Atuou, também, na trilha da peça “Orfeu da Conceição”, de Tom Jobim, além de acompanhar uma série de artistas e orquestras, em shows e gravações pelo Brasil e exterior.


(Foto por Daryan Dornelles / divulgação)


Em 1964, fundou o grupo “Os Ipanemas”, lançando o LP que leva o nome do grupo e que se tornaria grande sucesso na Europa. No ano seguinte, passou a integrar as orquestras da TV Globo (do Rio) e TV Excelsior (de São Paulo). Em 1968, além de assumir o posto de baterista da orquestra da TV Tupi em São Paulo, foi convidado por Elza Soares para gravar o disco “Elza Soares / Baterista: Wilson das Neves” pela Odeon, onde lhe foi conferido um posto de destaque junto à cantora, que pode ser conferido – para além da capa – na faixa “Deixa isso pra lá” [ouça aqui].


Capa do disco "Elza Soares - Baterista: Wilson das Neves" (ODEON - 1968)


Em 1996, lançou o disco “O som sagrado de Wilson das Neves” com músicas de sua autoria e em parcerias com Chico Buarque e Paulo Cesar Pinheiro, se revelando também como cantor e compositor, sendo contemplado pelo prêmio “Sharp”. Seguiu gravando e lançando discos como cantor e faturando prêmios como de “melhor canção” e “melhor álbum de samba”. Também atuou como ator, em 2006, no filme “Noel, Poeta da Vila”, direção de Ricardo Van Steen [veja aqui].


Capa do disco "O som sagrado de Wilson das Neves" (1996)


Músico extremamente habilidoso, dominou e desenvolveu de forma singular diversas correntes do samba – sobretudo no contexto do samba no prato –, gravando um impressionante acervo de importantes discos da música brasileira e tornando-se grande referência para o samba na bateria. Acompanhou mais de 600 artistas como Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Roberto Carlos, Elis Regina, Ney Matogrosso, Beth Carvalho, Tom Jobim, Wilson Simonal, Sarah Vaughan e Chico Buarque, com quem trabalhou por mais de 30 anos - gravando grande parte da discografia.

Músico reconhecido internacionalmente, foi um dos destaques na abertura dos Jogos Olímpicos de 2016 (no Brasil), representando a riqueza do samba e da cultura brasileira. Faleceu em 26 de agosto 2017, aos 81 anos, lutando contra o câncer.

Confira a seguir, 12 trabalhos que eternizam a obra e trajetória de Wilson das Neves:

Os Ipanemas (Os Ipanemas – 1964)
[ouça aqui]


Coisas (Moacir Santos - 1965)
[ouça aqui]


Elza Soares – Baterista: Wilson das Neves (1968)
[ouça aqui]


Egberto Gismonti (Egberto Gismonti - 1969)
[ouça aqui]


Em pleno verão (Elis Regina - 1970)
[ouça aqui]


Cartola 70 anos (Cartola - 1979)
[ouça aqui]


Linha de passe (João Bosco - 1979)
[ouça aqui]


Na fonte (Beth Carvalho - 1981)
[ouça aqui]


Pelas terras do Pau-Brasil (João Nogueira - 1984)
[ouça aqui]


O som sagrado de Wilson das Neves (Wilson das Neves – 1996)
[ouça aqui]


Um Brasileiro – Ney Matogrosso interpreta Chico Buarque (Ney Matogrosso – 1996)
[ouça aqui]


Carioca (Chico Buarque - 2007)
[assista aqui]




Referências:


ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

BARSALINI, Leandro. Modos de execução da bateria no samba. Campinas, Unicamp, 2014.

CABRAL, Sérgio. Elisete Cardoso: uma vida. Editora Lazuli LTDA, 2016.

DE MELLO, Zuza Homem. A era dos festivais: uma parábola. Editora 34, 2003.


Fontes complementares:

http://immub.org/

http://www.discosdobrasil.com.br/discosdobrasil/ 

domingo, 27 de maio de 2018

O samba no prato


Até a década de 1950, o samba batucado predominou como modo de executar o ritmo na bateria entre os bateristas da primeira geração. Músicos como Luciano Perrone, Sut, J. Tomás, Valfrido Silva entre outros, buscando “imitar” a batucada do instrumental da percussão, desenvolveram habilidosamente um jeito batucado de se tocar bateria entre os anos 1920 e 1950.


Vale lembrar que na primeira parte deste período, muitos kits de bateria ainda não eram contemplados com tons (ou surdo), chimbal (que veio a ser incorporado definitivamente no final dos anos 20), nem estante de caixa (era comum se usar uma cadeira como suporte). Além disso, o pedal (quando tinha) era pesado e nem todas as caixas possuíam esteira, sendo comum ouvirmos a chamada “caixa surda” em diversas gravações deste período. Tais restrições forçavam os bateristas a tocarem priorizando os tambores, economizando notas no bumbo e então constituindo uma matriz mais percussiva, batucada, que dialogava com a música e os recursos da época.


(Bateria Gaeta exposta no Museu Oswaldo Russomano, em Bragança Paulista – SP. Fonte: Barsalini, 2009)
Mas e o prato? Existia? Se usava?

De fato, o prato esteve presente (ao que tudo indica) desde os primeiros kits de bateria no Brasil. E sim: era utilizado antes dos anos 50, inclusive no samba, mas com finalidades mais pontuais, sem características de condução (até mesmo pelas limitações tecnológicas).

(Fixação do prato na bateria Gaeta exposta no Museu Oswaldo Russomano, em Bragança Paulista – SP. Fonte: Barsalini, 2009)

A partir de 1950, quando o Brasil é tomado por um ar de modernidade (refletido na política externa, na indústria, na rádio, no cinema, na música e etc.), e alguns kits de bateria (geralmente de orquestras) já se equipavam com pedais mais ágeis, estante de prato, peles sintéticas, entre outras novidades, dois bateristas são apontados como protagonistas na criação de um novo paradigma que ficou conhecido como “samba no prato” e que não somente mudaria a concepção musical dos bateristas brasileiros, mas também contribuiria na construção de novas formas para a “moderna” música brasileira: Edison Machado e Hildofredo Correa.

Edison Machado é frequentemente citado como o “inventor” do samba no prato. De fato, Edison foi o primeiro a registrar os novos padrões em gravação, nos álbuns da Turma da Gafieira de 1957. No entanto, muitos músicos que vivenciaram esta importante fase, atribuem ao baterista Hildofredo Correa o feito de pioneiro.

Deixando um pouco de lado a “patente” do “samba no prato”, é válido observar que esta nova concepção traria uma nova forma de a bateria se comunicar musicalmente com os demais instrumentos (na música brasileira), pois abriu caminhos para se tocar bateria melódica e harmonicamente, ou seja, desprendendo-se dos “moldes percussivos” (de incorporar toques e elementos da percussão).

Dadas as novas condições técnicas e estilísticas para a bateria brasileira, coube a bateristas como Milton Banana, Airto Moreira, Wilson das Neves, Dom Um Romão, entre tantos outros (além do próprio Edison Machado), darem continuidade ao desenvolvimento do samba no prato (sobretudo no contexto do samba-jazz e bossa-nova), constituindo principalmente duas matrizes que se tornaram padrões de execução do samba na bateria: O samba conduzido e o samba fraseado. Conheça abaixo, as principais características e referências de cada padrão:

  • ·        Samba fraseado: tem como característica a aplicação de variações do telecoteco (por exemplo) em vozes sobrepostas, ou seja, as duas mãos tocam em função de uma linha fraseada e não necessariamente conduzida (porém, com uma das mãos no prato).

Exemplo:



Baterista referência: Edison Machado

Edison Machado - Capa

  • ·        Samba conduzido: predomina a condução de quatro semicolcheias por tempo em uma voz (tocada nos pratos), enquanto outra voz desenvolve uma linha de fraseado (no aro da caixa, por exemplo). Cada voz é executada por mãos distintas.


Exemplo:



Baterista referência: Milton Banana


Milton Banana - Capa


Pra fechar nossa matéria, confira a seguir, uma seleção de 10 álbuns (organizada em ordem cronológica) que marcam diferentes fases e aplicações do samba no prato:



  • ·         Álbum: É samba novo (1964)

Baterista: Edison Machado

  • ·         Álbum: Dom Um (1964)

Baterista: Dom Um Romão

  • ·         Álbum: Sambalanço Trio (1964)

Baterista: Airto Moreira

  • ·         Álbum: Dois na Bossa (1965)

Baterista: Toninho Pinheiro

  • ·         Álbum: Zimbo Trio (1965)

Baterista: Rubinho Barsotti

  • ·         Álbum: Balançando com Milton Banana Trio (1966)

Baterista: Milton Banana

  • ·         Álbum: Elza Soares – Baterista: Wilson Das Neves (1968)

Baterista: Wilson Das Neves

  • ·         Álbum: Elis Regina Montreux Jazz Festival (1979)

Baterista: Paulo Braga

  • ·         Álbum: Fundo de Quintal convida (2004)

Baterista: Ademir Batera

  • ·         Álbum: Samba Jazz & outras bossas (2011)

Baterista: Tutty Moreno





Referências:
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

BARSALINI, Leandro. As Sínteses de Edson Machado: Um Estudo sobre os padrões de Samba na bateria. Campinas, Unicamp, 2009.

BARSALINI, Leandro. Modos de execução da bateria no samba. Campinas, Unicamp, 2014.

DAMASCENO, Alexandre. A batucada fantástica de Luciano Perrone: sua performance musical no contexto dos arranjos de Radamés Gnattali. Campinas, Unicamp, 2016.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Edison Machado


Nascido no bairro Engenho Novo, Rio de Janeiro na década de 30, Edison dos Santos Machado (31/01/1934 – 15/09/1990) se tornou importante figura na construção de uma nova concepção para a bateria brasileira. Baterista autodidata, desenvolveu-se musicalmente vendo e ouvindo bateristas de orquestras da época como Luciano Perrone e Edgard Rocca, além de adquirir influência dos bateristas norte-americanos de Jazz como Max Roach, Art Blakey e – posteriormente – Elvin Jones. Requisitado por diversos músicos no Beco das Garrafas (um dos principais redutos de músicos dos anos 50 e 60 no Rio de Janeiro), é apontado como inventor do chamado samba no prato*.


Além de atuar fortemente no cenário musical da bossa nova, Edison Machado é também uma das principais referências quando o assunto é Samba Jazz, sendo neste contexto que desenvolveu habilidosamente seu jeito de conduzir no prato – feito que marcou uma moderna fase da música brasileira e transformou definitivamente o modo de se tocar bateria no Brasil.


Edison Machado


Edison Machado acompanhou diversos grupos em turnês internacionais por diversos países chegando a tocar com Chet Beker e Ron Carter nos Estados Unidos. Além disso, gravou discos antológicos da música brasileira, não só instrumental, mas com artistas como Tom Jobim, Johnny Alf, Elis Regina, Nara Leão, Agostinho dos Santos, Sérgio Mendes, entre outros.

Destacamos 05 importantes trabalhos instrumentais que Edison gravou, para que você possa conferir e compreender um pouco do grande legado deixado pelo músico:
  • 1957 | Turma da Gafieira (Musidisc)

Músicos: Altamiro Carrilho (flauta), Zé Bodega e Cipó (sax), Raul de Souza (trombone), Maurilio Santos (trompete), Jorge Marinho (contrabaixo), Nestor Campos (guitarra), Paulinho e Britinho (piano) e Sivuca (acordeon).

  • ·         1963 | Edison Machado é Samba Novo – Edisson Machado (Columbia)

Músicos: Tenório Jr. (piano), Tião Neto (contrabaixo), Paulo Moura (sax alto), Pedro Paulo, (trompete), Edson Maciel (trombone), Raul de Souza (trombone), J. T. Meirelles (sax tenor) e Edison Machado (bateria).

  • ·         1964 | O novo som – Meirelles e Os Copa 5 (Philips)

Músicos: J. T. Meirelles (sax alto, tenor e flauta), Eumir Deodato (piano), Roberto Menescal (violão), Waltel Branco (guitarra), Manoel Gusmão (baixo) e Edison Machado (bateria).

  • ·         1965 | Rio 65 trio – Rio 65 trio (Philips)

Formação: Dom Salvador (piano), Sérgio Barroso (baixo) e Edison Machado (bateria). 

  • ·         1970 | Obras – Edison Machado Quarteto (Stylo)

Músicos: Alfredo Cardim (piano), Ion Muniz (sax tenor e flauta), Ricardo Pereira dos Santos (baixo) e Edison Machado (bateria).



*Muitos músicos e pesquisadores afirmam que o primeiro baterista a tocar o samba no prato (como padrão de condução) foi Hildofredo Correa. Porém, como Edison Machado foi o primeiro a registrar este padrão em gravações, acabou ganhando status de “inventor” do samba no prato.


Referências:


ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

BARSALINI, Leandro. As Sínteses de Edson Machado: Um Estudo sobre os padrões de Samba na bateria. Campinas, Unicamp, 2009.

BARSALINI, Leandro. Modos de execução da bateria no samba. Campinas, Unicamp, 2014.

DAMASCENO, Alexandre. A batucada fantástica de Luciano Perrone: sua performance musical  no contexto dos arranjos de Radamés Gnattali. Campinas, Unicamp, 2016.

segunda-feira, 26 de março de 2018

O samba batucado


É bem comum que hoje, quando nos deparamos com um baterista tocando samba, notamos uma predominância do uso de pratos (seja chimbal ou ride) na construção de sua levada, constituindo um samba mais “conduzido”. Mas se pensarmos que esta forma de tocar samba tornou-se padrão só a partir dos anos 50 (abordaremos isso na próxima matéria), logo nos perguntamos: E como se tocava samba na bateria nos anos 20, 30 e 40? Afinal, não se usava prato?

De fato, o prato esteve presente desde a chegada das primeiras baterias no Brasil (aproximadamente 1920), mas até a década de 50, seu uso se limitava a efeitos, pontuações de alguns trechos da música e não como um padrão de condução. O chimbal seria definitivamente incorporado um pouco mais tarde, no final dos anos 20. A caixa, nem sempre contava com esteira, sendo comum o uso da chamada “caixa surda”. Outro fator definidor no aspecto timbrístico deste período são as peles de couro animal que produziam som mais grave e profundo.


(Bateria Gaeta exposta no Museu Oswaldo Russomano, em Bragança Paulista – SP. Fonte: Barsalini, 2009)


Até os anos 20, o samba que tinha na figura de Donga, João da Baiana, Sinhô e Pixinguinha seus principais compositores, ainda soava maxixado, com a matriz rítmica 3 + 3 + 2 (duas colcheias pontuadas e uma colcheia).


Mas três importantes acontecimentos se destacam no percurso histórico-social que redefiniria as matrizes do samba:

  • ·       1927 – Início das gravações elétricas que possibilitaram maior captação de timbres e intensidades com microfones, fios, amplificadores e etc., sendo a partir daí, possível gravar vozes mais sutis ou maior instrumentação incluindo bateria e percussão. 

  • ·    1928 – Nascimento do bloco carnavalesco “Deixa Falar”, posteriormente reconhecida como primeira escola de samba. Contava com os bambas Bide, Marçal, Luna, Eliseu, Ismael Silva (entre outros) – moradores ou frequentadores do Estácio de Sá – responsáveis por introduzir surdo, cuíca, tamborim (entre outros instrumentos) no samba, o conferindo status de modernidade. 

  • ·    1929 – Gravação de “Na Pavuna”: Primeira gravação com percussão, já com os “novos” instrumentos, típicos da batucada de escola de samba. O sucesso da gravação contribui para a consolidação desse instrumental no samba, abrindo portas para a profissionalização de percussionistas (batuqueiros) dos morros.




Pouco a pouco, o samba urbano, tocado por batuqueiros da nova geração foi se instituindo como novo paradigma, mas bateristas como Luciano Perrone, atuaram exatamente no período histórico em que estes dois paradigmas de samba coexistiram. E foi buscando imitar a sonoridade do instrumental da percussão, que os bateristas da época desenvolveram o que chamamos de “samba batucado”, que predominou como modo de execução do samba na bateria até meados dos anos 50.

Finalmente, vamos conferir no que resultou a formação deste samba batucado na bateria, entrando em contato com a riqueza deixada pelos bateristas da primeira geração nesses 05 exemplos selecionados*:




  • ·       O feitiço virou samba (Gadé e Valfrido Silva – 1956) [ouça aqui]
    Baterista: Valfrido Silva (saiba mais)

  • ·       Batuque no morro (Russo do Pandeiro e Sá Roris - 1957) [ouça aqui]
    Baterista: Romeu

  • ·       Samba cruzado (Luciano Perrone – 1972)** [ouça aqui]
    Baterista: Luciano Perrone

*Vale notar que era comum se tocar a caixa surda com baqueta em uma das mãos enquanto a outra se encarregava de abafar a pele e variar os timbres, como nos atabaques. Outro detalhe está no bumbo, que por muito tempo era tocado em semínimas. Depois, bateristas como Sut (por exemplo) passaram a usar o “bumbo a dois”, que se afirmou como novo padrão, sendo utilizado até hoje.


**Por mais que o samba batucado tenha predominado nos anos 30, 40 e até 50, não podíamos deixar de selecionar esta faixa do disco de 1972 de Luciano Perrone onde o músico registra de forma quase didática, diferentes levadas de samba batucado (na bateria e percussão) incluindo o histórico samba cruzado.



Gostou? Comente com suas dúvidas, sugestões, opiniões e, se possível, compartilhe! Até a próxima!


Referências:

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

BARSALINI, Leandro. As Sínteses de Edson Machado: Um Estudo sobre os padrões de Samba na bateria. Campinas, Unicamp, 2009.

BARSALINI, Leandro. Modos de execução da bateria no samba. Campinas, Unicamp, 2014.

CABRAL, Sérgio. A MPB na era do Rádio. São Paulo: Moderna, 1996. – (Coleção Polêmica).

CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Lumiar, 1996.

DAMASCENO, Alexandre. A batucada fantástica de Luciano Perrone: sua performance musical no contexto dos arranjos de Radamés Gnattali. Campinas, Unicamp, 2016.

SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro (1917 – 1933). Zahar, 2001.

SEVERIANO, Jairo. Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidades. São Paulo: Ed. 34, 2008.


quinta-feira, 1 de março de 2018

As primeiras gravações com bateria e percussão no Brasil

Pesquisar sobre determinados períodos ou artistas da música brasileira é lidar com uma série de dificuldades e contradições ocasionadas pela grande falta de registros e documentações. Mas com uma boa dose de interesse, cuidado e atenção, podemos achar uma boa bibliografia, uma vasta discografia – entre outras fontes – para então confrontar os dados e obter resultados satisfatórios na construção de novos conhecimentos. E é neste sentido que preparamos um breve estudo cronológico destacando importantes gravações em busca de contextualizar a bateria brasileira com a nossa música popular e com o desenvolvimento da indústria fonográfica brasileira.


Vamos começar com dois momentos importantes que marcam o início da indústria fonográfica brasileira:


  • 1879 – Chegada do fonógrafo ao Brasil através de seu inventor Thomaz Edison.


(Thomas Edison ao lado de sua grande invenção, o fonógrafo / site: seuhistory.com)


  • 1900 – Inauguração da Casa Edison pelo empreendedor Fred Figner comercializando produtos como discos, cilindros e fonógrafos. 
(Casa Edison na Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro / site: somshow.com.br/memoria/historia/a-casa-edison)


Agora sim, vamos às gravações:

  • 1902 – Primeira gravação musical com artista brasileiro.
Música: Isto é bom (ouça aqui)
Composição: Xisto Bahia
Interpretação: Baiano
Gênero indicado: Lundu

  • 1916 – Primeiro samba gravado*. 
Música: Pelo Telefone (ouça aqui)
Composição: Donga e Mauro de Almeida
Interpretação: Baiano
Gênero indicado: Samba


*Antes disso, outras músicas foram gravadas e indicadas como samba, mas Pelo telefone foi a primeira reconhecida como tal, e partir de seu lançamento, o samba assumiria o posto de principal gênero musical brasileiro.

  • 1927 – Primeiras gravações com bateria*

Música: Albertina (ouça aqui)
Composição: Antônio Lopes de Amorim Diniz
Interpretação: Francisco Alves
Acompanhamento: Orquestra Pan Americana do Cassino Copacabana (dirigida por Simon Bountman)
Baterista: Aristides Prazeres (ou Luciano Perrone)**
Gênero indicado: Marcha
Disco: Odeon 10.001/A - Matriz 1162***

*A partir de 1927 foi iniciado o sistema elétrico de gravação, pela Odeon no Rio de Janeiro. O novo processo de gravação, que passaria a substituir a fase de gravações acústicas, dispunha de microfones, fios e amplificadores, possibilitando a captação de outras frequências sonoras (até então não captadas), podendo gravar mais instrumentos e favorecendo novas formas de interpretação vocal.

**Alguns pesquisadores afirmam que o primeiro baterista a gravar teria sido Luciano Perrone, que integrou a Orquestra Pan Americana. Porém, para Jairo Severiano (2008) quem ocupava as baquetas da orquestra em 1927 era Aristides Prazeres.

***Este foi o primeiro disco elétrico a ser lançado no Brasil, porém não foi o primeiro a ser gravado. O primeiro, lançado com o nº 10.006 (ouça aqui) seria de Carlos Serra (mas ainda sem o acompanhamento de bateria ou percussão).

  • 1929 – Primeira gravação com percussão (característica do samba)*
Música: Na Pavuna (ouça aqui)
Composição: Almirante e Candoca de Anunciação
Interpretação: Almirante e Bando de Tangarás**
Acompanhamento: Carolina Cardoso de Menezes (piano), Luperce Miranda (bandolim) e percussionistas anônimos.
Gênero indicado: Choro de rua
Disco: Parlophon 13089 A (matriz 3179)

*Gravado em 30 de novembro de 1929, lançado em janeiro de 1930 e grande sucesso no carnaval do mesmo ano, Na Pavuna registra a primeira gravação com surdo, tamborim e pandeiro (instrumental percussiva característica do samba).

**Grupo formado por Almirante, Noel Rosa, Alvinho, Braguinha (João de Barro) e Henrique Brito.


  • 1931 – Primeiro solo de bateria gravado no Brasil*
Música: Faceira (ouça aqui)
Composição: Ary Barroso
Interpretação: Sílvio Caldas
Acompanhamento: Orquestra RCA Victor / Arranjo: Pixinguinha
Baterista: Luciano Perrone
Gênero indicado: Samba

*Entende-se como solo de bateria, estes pequenos espaços de dois compassos onde o instrumento se destaca. Esta foi a primeira gravação a evidenciar a bateria.


  • 1934 – Primeira gravação que concedeu a um baterista o feito de ter seu nome registrado em disco*

Música: Preludiando (ouça aqui)
Composição: Carolina Cardoso de Menezes
Interpretação: Carolina Cardoso de Menezes (ao piano)
Baterista: Valfrido Silva**
Gênero indicado: Fox-blue

*Neste período os discos indicavam somente intérprete, compositor e o nome do grupo que acompanhava (na parte instrumental), mas não especificava detalhadamente cada músico que atuou na gravação. Como nesta faixa o único acompanhante foi o baterista – sendo gravada a piano e bateria – o disco ficou com o seguinte registro: “Solo de piano por Carolina Cardoso Menezes com Walfrido na bateria”.

**O nome do baterista é frequentemente encontrado em registros como “Walfrido”. Se você encontrar este nome em autorias de músicas gravadas por Carmen Miranda, por exemplo, não tenha dúvidas: trata-se de Valfrido Pereira da Silva (baterista e compositor).

...

Vale ressaltar que o período abordado nesta matéria corresponde com a primeira fase da bateria brasileira, ou seja, aos bateristas da primeira geração onde predominou o que chamamos de “samba batucado”.

E aí? O que achou?

Envie suas dúvidas, comentários e sugestões. Não deixe de compartilhar, interagir e acompanhar nossa jornada musical pela história e desenvolvimento do nosso instrumento. Até a próxima!





Referências:

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

BARSALINI, Leandro. As Sínteses de Edson Machado: Um Estudo sobre os padrões de Samba na bateria. Campinas, Unicamp, 2009.

BARSALINI, Leandro. Modos de execução da bateria no samba. Campinas, Unicamp, 2014.

CABRAL, Sérgio. A MPB na era do Rádio. São Paulo: Moderna, 1996. – (Coleção Polêmica).

CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Lumiar, 1996.

CABRAL, Sérgio. No tempo de Ary Barroso. Editora Lazuli LTDA, 2016.

DAMASCENO, Alexandre. A batucada fantástica de Luciano Perrone: sua performance musical no contexto dos arranjos de Radamés Gnattali. Campinas, Unicamp, 2016.

SEVERIANO, Jairo. Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade. São Paulo: Ed. 34, 2008.

TINHORÃO, José Ramos. História Social da Música Popular Brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998.

Rubinho Barsotti

Natural de São Paulo, nascido em 16 de outubro de 1932, Rubens Alberto Barsotti iniciou sua carreira musical dando canjas em casas noturnas...