Pesquisar sobre determinados
períodos ou artistas da música brasileira é lidar com uma série de dificuldades
e contradições ocasionadas pela grande falta de registros e documentações. Mas
com uma boa dose de interesse, cuidado e atenção, podemos achar uma boa
bibliografia, uma vasta discografia – entre outras fontes – para então
confrontar os dados e obter resultados satisfatórios na construção de novos
conhecimentos. E é neste sentido que preparamos um breve estudo cronológico
destacando importantes gravações em busca de contextualizar a bateria
brasileira com a nossa música popular e com o desenvolvimento da indústria
fonográfica brasileira.
Vamos começar com dois
momentos importantes que marcam o início da indústria fonográfica brasileira:
- 1879 – Chegada do fonógrafo ao Brasil através de seu inventor Thomaz Edison.
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(Thomas Edison ao lado de sua grande invenção, o fonógrafo / site: seuhistory.com) |
- 1900 – Inauguração da Casa Edison pelo empreendedor Fred Figner comercializando produtos como discos, cilindros e fonógrafos.
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(Casa Edison na Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro / site: somshow.com.br/memoria/historia/a-casa-edison) |
Agora sim, vamos às
gravações:
- 1902 – Primeira gravação musical com artista brasileiro.
Música: Isto é bom (ouça aqui)
Composição: Xisto Bahia
Interpretação: Baiano
Gênero indicado: Lundu- 1916 – Primeiro samba gravado*.
Música: Pelo Telefone (ouça aqui)
Composição: Donga e Mauro de
Almeida
Interpretação: Baiano
Gênero indicado: Samba
*Antes disso, outras músicas
foram gravadas e indicadas como samba, mas Pelo
telefone foi a primeira reconhecida como tal, e partir de seu lançamento, o
samba assumiria o posto de principal gênero musical brasileiro.
- 1927 – Primeiras gravações com bateria*
Música: Albertina (ouça aqui)
Composição: Antônio Lopes de
Amorim Diniz
Interpretação: Francisco
Alves
Acompanhamento: Orquestra
Pan Americana do Cassino Copacabana (dirigida por Simon Bountman)
Baterista: Aristides
Prazeres (ou Luciano Perrone)**
Gênero indicado: Marcha
Disco: Odeon 10.001/A - Matriz 1162***
Disco: Odeon 10.001/A - Matriz 1162***
*A partir de 1927 foi iniciado o sistema elétrico de gravação, pela Odeon no Rio de Janeiro. O novo processo de gravação, que passaria a substituir a fase de gravações acústicas, dispunha de microfones, fios e amplificadores, possibilitando a captação de outras frequências sonoras (até então não captadas), podendo gravar mais instrumentos e favorecendo novas formas de interpretação vocal.
**Alguns pesquisadores afirmam que o primeiro baterista a gravar teria sido Luciano Perrone, que integrou a Orquestra Pan Americana. Porém, para Jairo Severiano (2008) quem ocupava as baquetas da orquestra em 1927 era Aristides Prazeres.
***Este foi o primeiro disco elétrico a ser lançado no Brasil, porém não foi o primeiro a ser gravado. O primeiro, lançado com o nº 10.006 (ouça aqui) seria de Carlos Serra (mas ainda sem o acompanhamento de bateria ou percussão).
- 1929 – Primeira gravação com percussão (característica do samba)*
Música: Na Pavuna (ouça aqui)
Composição: Almirante e
Candoca de Anunciação
Interpretação: Almirante e
Bando de Tangarás**
Acompanhamento: Carolina
Cardoso de Menezes (piano), Luperce Miranda (bandolim) e percussionistas
anônimos.
Gênero indicado: Choro de
rua
Disco: Parlophon 13089 A (matriz 3179)
*Gravado em 30 de novembro de 1929, lançado em janeiro de 1930 e grande sucesso no carnaval do mesmo ano, Na Pavuna registra a primeira gravação com surdo, tamborim e pandeiro (instrumental percussiva característica do samba).
**Grupo formado por Almirante, Noel Rosa, Alvinho, Braguinha (João de Barro) e Henrique Brito.
Disco: Parlophon 13089 A (matriz 3179)
*Gravado em 30 de novembro de 1929, lançado em janeiro de 1930 e grande sucesso no carnaval do mesmo ano, Na Pavuna registra a primeira gravação com surdo, tamborim e pandeiro (instrumental percussiva característica do samba).
**Grupo formado por Almirante, Noel Rosa, Alvinho, Braguinha (João de Barro) e Henrique Brito.
- 1931 – Primeiro solo de bateria gravado no Brasil*
Música: Faceira (ouça aqui)
Composição: Ary Barroso
Interpretação: Sílvio Caldas
Acompanhamento: Orquestra
RCA Victor / Arranjo: Pixinguinha
Baterista: Luciano Perrone
Gênero indicado: Samba
*Entende-se como solo de
bateria, estes pequenos espaços de dois compassos onde o instrumento se destaca.
Esta foi a primeira gravação a evidenciar a bateria.
- 1934 – Primeira gravação que concedeu a um baterista o feito de ter seu nome registrado em disco*
Música: Preludiando (ouça aqui)
Composição: Carolina Cardoso
de Menezes
Interpretação: Carolina
Cardoso de Menezes (ao piano)
Baterista: Valfrido Silva**
Gênero indicado: Fox-blue
*Neste período os discos indicavam somente intérprete, compositor e o
nome do grupo que acompanhava (na parte instrumental), mas não especificava
detalhadamente cada músico que atuou na gravação. Como nesta faixa o único
acompanhante foi o baterista – sendo gravada a piano e bateria – o disco ficou com o seguinte registro: “Solo de piano por Carolina Cardoso Menezes com
Walfrido na bateria”.
**O nome do baterista é
frequentemente encontrado em registros como “Walfrido”. Se você encontrar este
nome em autorias de músicas gravadas por Carmen Miranda, por exemplo, não tenha
dúvidas: trata-se de Valfrido Pereira da Silva (baterista e compositor).
...
Vale ressaltar que o período
abordado nesta matéria corresponde com a primeira fase da bateria brasileira, ou
seja, aos bateristas da primeira geração onde predominou o que chamamos de “samba
batucado”.
E aí? O que achou?
Envie suas dúvidas,
comentários e sugestões. Não deixe de compartilhar, interagir e acompanhar
nossa jornada musical pela história e desenvolvimento do nosso instrumento. Até
a próxima!
Referências:
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular
Brasileira. Rio de Janeiro, Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural
Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
BARSALINI,
Leandro. As Sínteses de Edson Machado: Um Estudo sobre os padrões de Samba na
bateria. Campinas, Unicamp, 2009.
BARSALINI,
Leandro. Modos de execução da bateria no
samba. Campinas, Unicamp, 2014.
CABRAL,
Sérgio. A MPB na era do Rádio. São
Paulo: Moderna, 1996. – (Coleção Polêmica).
CABRAL,
Sérgio. As escolas de samba do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: Lumiar, 1996.
CABRAL, Sérgio. No tempo de Ary Barroso. Editora Lazuli LTDA, 2016.
DAMASCENO, Alexandre. A batucada fantástica de Luciano Perrone: sua performance musical no contexto dos arranjos de Radamés Gnattali. Campinas, Unicamp, 2016.
CABRAL, Sérgio. No tempo de Ary Barroso. Editora Lazuli LTDA, 2016.
DAMASCENO, Alexandre. A batucada fantástica de Luciano Perrone: sua performance musical no contexto dos arranjos de Radamés Gnattali. Campinas, Unicamp, 2016.
SEVERIANO,
Jairo. Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade.
São Paulo: Ed. 34, 2008.
TINHORÃO,
José Ramos. História Social da Música
Popular Brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998.
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